Monumento
Igreja e Mosteiro de Santa Cruz
Espaço cuja história particular se cruza com a história do país, o Mosteiro de Santa Cruz foi fundado em 1131, por S Teotónio e um grupo de doze Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, que tiveram apoio dos 2 primeiros reis de Portugal.
S. Teotónio foi o primeiro Santo de Portugal, e o primeiro Prior deste mosteiro. D. Afonso Henriques foi figura sempre presente na vida do mosteiro, e acabaria por escolher este espaço como local de sepultamento, à semelhança do que faria alguns anos depois o filho, D. Sancho I.
Esta comunidade monacal foi a mais importante casa monástica dos reinados da primeira dinastia e marcou um período fundamental na formação da identidade de Portugal, contribuindo para a afirmação política de Coimbra durante a fundação do reino.
Foi a casa conventual com mais influência na cidade, tendo contribuído para o desenvolvimento cultural, económico e político do País, que se manteve um importante centro académico ligado à Universidade de Coimbra.
Tornou-se uma importante escola medieval, formando intelectuais e pessoas ligadas ao poder político tendo apoio da nova dinastia, criou reputação como centro cultural e intelectual do reino.
Ainda na Idade Média, o mais famoso estudante de Santa Cruz foi Fernando Martins de Bulhões – Santo António de Lisboa ou de Pádua – que em 1220 assistiu à chegada dos restos mortais de cinco frades franciscanos martirizados em Marrocos – os Mártires de Marrocos – tendo então decidido fazer-se missionário e partir de Portugal.
Tal como Santo António, o poeta Luis de Camões foi outra personalidade que aqui estudou, uma vez que há evidencias da sua poesia e de uma estadia em Coimbra.
O primitivo edifício do mosteiro e igreja de Santa Cruz foi erguido entre 1132 e 1223, com projeto de mestre Roberto, conceituado artista do estilo românico.
A fachada da igreja era semelhante à da Sé Velha de Coimbra, com uma torre central avançada, dotada de um portal encimado por um janelão, ainda percetíveis por trás da decoração posterior.
Mas da época românica pouco resta, uma vez que, no século XVI, foram executadas grandes reformas e obras de restauro e alargamento da casa monástica, promovidas pelos reis D. Manuel I e D. João III.
A qualidade das intervenções artísticas no mosteiro, desta época manuelina, fazem deste um dos principais monumentos históricos e artísticos do país.
Executadas pelos mais importantes arquitectos e escultores da época manuelina, a intervenção iniciou-se em 1507, sob a orientação de Boytac e, depois, por Diogo de Castilho. A este arquitecto deve-se o desenho da monumental fachada, cujas esculturas foram executadas por Nicolau de Chanterenne, o famoso escultor que também reformulou os túmulos de Afonso Henriques e Sancho I.
A partir de 1507, o rei Manuel I de Portugal ordenou uma extensa reforma, reconstruindo e redecorando o mosteiro e a sua igreja. Após o alargamento da igreja, com a construção de uma nova capela-mor, foi dada a dignidade merecida aos restos mortais de D. Afonso Henriques e de D. Sancho I, seu filho e sucessor, dos seus primitivos sarcófagos para novos túmulos decorados em estilo manuelino, que foram colocados na capela-mor.
Nicolau Chanterene realizou as esculturas jacentes representando os dois primeiros reis de Portugal. As arcas tumulares, colocadas frente a frente, são enquadradas por retábulos pétreos, marcadamente do gótico final, mas onde a decoração manuelina impera e a renascentista começa a querer evidenciar-se.
Os túmulos estão decorados com muitas estátuas e elementos gótico-renascentistas, além dos símbolos de D. Manuel I, a esfera armilar e a cruz da Ordem de Cristo.
Entre 1507 e 1513 a fachada ganhou duas torres laterais com pináculos e uma platibanda decorativa. Mais tarde, entre 1522 e 1526, foi erguido o portal cenográfico manuelino, obra de Diogo de Castilho e do francês Nicolau de Chanterenne.
Junto ao capítulo está o chamado “Claustro do Silêncio”, obra de Marcos Pires construída entre 1517 e 1522, tendo abundante decoração manuelina.
Cerca de 1530 foi adicionado sobre a entrada um coro-alto. Nesse espaço foi instalado um magnífico cadeiral de madeira esculpida e dourada – um dos raros da época manuelina ainda existentes. A nave contém ainda um belo púlpito renascentista, obra de Nicolau de Chanterenne, datado de 1521.
Entre 1530 e 1577 funcionou uma oficina de tipografia no claustro.
A fonte no centro do claustro é do século XVII.
A sacristia da igreja é um exemplar típico do estilo maneirista, construída entre 1622 a 1624, e está decorada com azulejos seiscentistas. Possui quadros notáveis de Grão Vasco e Cristóvão de Figueiredo.
No século XVIII instalou-se um novo órgão, em estilo barroco, e as paredes da nave receberam um grupo de azulejos brancos-azuis lisboetas que narram passagens bíblicas.
O arco triunfal da fachada, data do século XIX.
O estatuto de Panteão Nacional, sem prejuízo da prática do culto religioso, foi reconhecido ao Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra em Agosto de 2003, pela presença tumular dos dois primeiros reis de Portugal.
Em 2003 a igreja foi reconhecida como Panteão Nacional.
O Mosteiro de Santa Cruz, durante os primeiros tempos da nacionalidade, foi um importante centro de estudos teológicos nacional e internacional, reconhecido pela sua vasta biblioteca e pelo seu scriptorium, onde os crúzios, se dedicavam à cópia de livros.